INTEGRACIONISMO E CONSTRUTIVISMO EM PSICOTERAPIA Ainda me lembro de um pequeno movimento dito ecuménico na Genebra dos anos sessenta, o qual à semelhança do ba’haismo(2) pretendia chegar à Verdade procurando o que haveria de comum entre as várias religiões monoteístas, e dos Jesus freaks e mesmo dos cientologistas na Califórnia dos anos setenta que tinham ideias parecidas, mesmo sem especificarem as fontes das suas sínteses new age. A comunidade ontológica ecuménica aceitava-se com simpatia, face ao perigo de crescimento desenfreado de outras religiões, ou seitas. O que realmente veio a suceder. E lembro-me sobretudo, na sequência das sínteses do Allan Bergin sobre as limitadas eficácias das psicoterapias então na moda, do nascimento no fim dos anos setenta e princípios dos oitenta dos movimentos integracionistas em psicoterapia. Estes visavam também descobrir o que havia de comum em diferentes modelos clínicos, e assim integrar a Verdade ou as essências e factores responsáveis pela mudança do ser humano em situação de consumidor de psicoterapia(s). O objectivo de isolar a comunidade dos factores de mudança compreendia-se com resignação epistemológica, face à loucura dos trezentos modelos de psicoterapia então existentes(3) . Que trinta anos mais tarde passaram muito provavelmente para seiscentos. Fazendo a síntese de credos diversificados, o movimento ecuménico quereria simplificar o acesso à Verdade, mas de facto estava a constituir uma nova religião. Isolando (unilateralmente) os factores comuns de mudança clínica dos outros modelos, os integracionistas não contribuíam para parar a proliferação desenfreada de psicoterapias, mas de facto criavam mais novos modelos, não diminuindo mas aumentando a loucura proliferadora. O construtivismo em psicoterapia nunca temeu a proliferação de ideias sobre processos de mudança e dos seus determinantes. Ao contrário, o construtivismo clínico constitui-se na diversidade das suas ideologias e modelos explicativos. Sem complexos com o quanto mais melhor, desde que se comparem as respectivas semelhanças e diferenças. Esta diferenciação na comunidade tem sido a mais valia do construtivismo, e a razão da sua modéstia doutrinária, isto é, da renúncia a marketings palavrosos e a teorizações de miséria para ganhar adeptos (i.e., mais psicoterapeutas, candidatos a tal, e clientes). Isto não quer dizer que o construtivismo seja um coisada ideológica que serve para aspirar tudo, ou que o mínimo denominador entre construtivistas seja insignificante face aos máximo diferenciador, mas simplesmente porque o construtivismo se justifica precisamente em acções de criatividade conceptual, numa fuite en avant d’idées que condiz com a aventura humana.
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Convém esclarecer que tanto os factores comuns da mudança clínica dos psicoterapeutas integracionistas como a particularização dos modelos construtivistas dizem respeito essencialmente aos determinantes ou causas da mudança em psicoterapia. Aquilo que habitualmente se mete nos objectivos e fundamentos onto-epistemológicos do modelo clínico como justificativo da sua originalidade ontológica ou da sua Verdade sobre o que é que causa o mal e o que é que pode mudar. Integracionistas e construtivistas integram o mais vasto agrupamento disciplinar das Ciências Humanas com os tais seiscentos modelos acreditados de psicoterapia. O que serve para distinguir cada um desses modelos é a respectiva filosofia, ou o romance das causas, a retórica hermenêutica, o why to do it, etc.. Mas raramente afirmam a sua originalidade com o resultado operacional dessas explicações. Ou seja, esses modelos distinguem-se muito menos quanto às suas metodologias de intervenção. Em termos de how to do it, os seiscentos modelos poderiam utilizar no máximo uma meia centena de metodologias clínicas. Na construção de religiões, também é muito mais fácil conceber os dogmas de fé do que fazer aplicar as regras de redenção.
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